Essa semana muito se falou nas redes sociais sobre a situação que ocorreu com a equipe alemã de futebol feminino do Wolfsburg.
As jogadoras do Wolfsburg fizeram uma belíssima temporada e conquistaram não apenas o Campeonato Alemão como a Copa da Alemanha.
Apesar dos motivos para comemorar, a equipe feminino teve a festa do título cancelada devido a situação “dramática” da equipe masculina do clube, que lutava contra o rebaixamento. Dirigentes dizem que a festa irá acontecer, mas somente alguns meses depois.
O diretor do clube, Tim Schimacher, afirmou na página do clube que “Na verdade, já é uma tradição que elas sejam recebidas pelo prefeito Klaus Mohrs e que celebrem na cidade a temporada vitoriosa com os torcedores. Mas agora o Wolfsburg todo está focado naturalmente na luta contra o rebaixamento. E por causa disso a festa para o time feminino não vai acontecer até o início da próxima temporada”.
Mas e se fosse ao contrário? E se o time masculino fosse campeão? A festa do título seria adiada caso a situação do time feminino não fosse boa? Posso responder com toda a certeza do mundo que NÃO! Se fosse o contrário, o masculino NUNCA seria privado de comemorar por causa da situação da equipe feminina.
A diretoria do Wolfsburg ignorou e desrespeitou o time feminino.
Todos sabem que as cifras do futebol masculino dificilmente algum dia serão alcançadas pelo futebol feminino brasileiro, mas essa não é a intenção das lutas pela evolução da modalidade.
Quando se fala de (ou se cobra) igualdade de gênero, esperamos que o respeito ocorra em igual proporção. Espera-se que responsabilidades, direitos e oportunidades sejam igualmente conferido para homens e mulheres, mas a grande maioria dos clubes, dirigentes e presidentes de federações desconhecem totalmente isso.
O que se espera são contratos de trabalho bem feitos, carteira assinada, multas rescisórias justas para ambos os lados, um sindicato atuante, times para iniciação da vida futebolística, competições bem organizadas e fortes para jogar, clubes para contratar, pagamento em dia, salários que permitam comprar um sorvete ou uma roupa sem faltar nada no fim do mês.
Basicamente, todas as responsabilidades, direitos e oportunidades devem (ou deveriam) ser igualmente concedidas para todos os gêneros, sem haver qualquer tipo de restrição por ser do gênero masculino ou feminino.
A realidade hoje é que (na maioria dos casos) não vemos nem mesmo a divulgação de jogos e notícias sobre competições das equipes de forma igualitária. Enquanto o masculino ganha destaque, o feminino é sempre deixado de lado e recebe pouca ou nenhuma atenção.
Por que não vemos jogadoras dos times femininos como garotas propaganda de programas de sócio-torcedor? Ou estampando as paredes dos clubes apenas para promover a imagem das equipes femininas? Destaques nas páginas dos clubes?
O que muita gente de dentro do próprio futebol feminino ainda precisa colocar na cabeça e entender é que se faz necessário lutar não apenas pelo espaço da mulher dentro das quatro linhas, mas também pelo reconhecimento e suporte dentro e fora das paredes dos clubes, nas pracinhas, nos campos de bairro e nas quadras das escolas. É uma luta social que vai muito além do seu direito de jogar futebol e viver como profissional do esporte.

Trata-se de quebrar paradigmas e preconceitos para que suas filhas, e as filhas de seus parentes e amigos possam ter um futuro muito melhor dentro do esporte e para que vocês atletas, quando pararem de jogar futebol, tenham um vasto e produtivo campo de atuação para que após tantos anos de dedicação, posam continuar a fazer o que amam e aprenderam a fazer a vida toda.
Dentro do esporte, embora exista um vasto campo de atuação profissional onde poderíamos ter a participação de mulheres, esse espaço ainda é raro.
Esperamos ansiosos pelo dia em que a igualdade de gênero será ensinada e praticada desde a escola e onde existirão no país políticas públicas efetivas sobre o tema, mas também esperamos ansiosos pelo dia em que as mulheres do futebol feminino entenderão que essa briga é delas e não se esconderão mais ou não temerão lutar pelo que é direito pois quando unidas perceberão que elas sempre foram a ponta mais forte dessa corda, só que nunca perceberam isso.
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