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A TÉCNICA INDIVIDUAL ASSOCIADA À TOMADA DE DECISÃO DO GOLEIRO NA FORMAÇÃO

Provavelmente, quando ouvimos falar de técnica individual, pensamos em capacidade de drible, como dizem na gíria fazer fintas, a capacidade de dominar e passar bem a bola, etc...


Técnica individual, de grosso modo, pode ser vista como a relação "eu-bola", mas por definição, vejo a técnica individual no futebol como: "a capacidade de um atleta se relacionar com a bola executando todos os gestos técnicos inerentes à prática do futebol de forma correta potenciando o seu desempenho individual em prol do seu coletivo.".


Se entendermos a Técnica Individual como a relação "eu-bola" podemos esclarecer que tanto melhor é o desempenho, quanto melhor for esta relação. Posto isto, serve este artigo para tentar esclarecer a importância desta relação na tomada de decisão do goleiro.


Tendo em conta o jovem goleiro, os goleiro de formação e o processo de ensino da tomada de decisão, começo por questionar como podemos ensinar um jovem goleiro a sair a um cruzamento? Como podemos pedir a um jovem goleiro que controle a profundidade gerindo o espaço por trás da defesa? Como podemos exigir segurança nas ações do jovem goleiro, dizendo que a melhor decisão é agarrar a bola?


Só entendo estas e outras questões que envolvam tomada de decisão de uma forma: dominando a técnica individual!


Como é óbvio, não estou à espera que um goleiro com 8 anos agarre todas as bolas, saia a cruzamentos com sucesso ou jogue por trás da defesa como o nosso Vitor Baía nos habituou, mas será legítimo ensinar um menino de 8 anos a sair a um cruzamento sem que ele antes aprenda a colocar a mão na bola?


Há escolas de formação que baseiam o seu ensino na colocação de problemas para os jovens resolver (tomada de decisão), contudo, julgo que não se pode pedir a um goleiro que o faça da melhor forma sem que este tenha ferramentas. Por exemplo: temos 2 goleiros, um excelente a agarrar bola e outro que não sabe agarrar a bola - chutamos uma bola frontal a ambos de igual forma, uma bola passível de ser agarrada, mas o 1º goleiro (que sabe agarrar bolas) socou para longe e o 2º goleiro (que não sabe agarrar bolas) teve exatamente o mesmo comportamento - a questão que coloco é - quem tomou uma má decisão? A resposta mais comum seria ambos, mas na minha visão de formação diria apenas o 1º, porque era o único dotado das ferramentas para tomar uma decisão diferente (agarrar a bola) e o 2º reagiu acionando os mecanismos que tinha para resolver o problema, logo tomou uma boa decisão (discutível se era a melhor ou não, mas perante as ferramentas que ele tinha, foi a melhor decisão).


É com base neste princípio que digo que não podemos pedir a um goleiro que saia em um cruzamento sem antes ensinarmos a socar e a agarrar, para que, quando exposto ao problema (o cruzamento) ele possa decidir o que será melhor e, mais importante ainda, para que se sinta capaz de resolver o problema (cruzamento). Em palavras fica muito longo, em treino e jogo são frações de segundos, mas quando dominamos a técnica individual reduzimos este tempo de reação e somos muito mais assertivos na decisão tomada ou na tomada de decisão.


Para mim não faz sentido ensinarmos tomada de decisão sem antes se dominarem as bases - só assim teremos alicerces para a construção de exercícios com grau de dificuldade mais elevado e a aproximar o máximo possível à realidade de jogo. É para mim difícil perceber, como podemos pedir ao mecânico para desmontar o motor do carro, sem primeiro lhe dizer que ferramentas há e para que servem - transferindo para o treino - não há segurança, sem técnicas de bloqueio assimiladas, não há bom posicionamento, sem aquisição das formas de deslocamento, não há leitura e controle da profundidade sem aquisições de comportamentos tácticos coletivos... etc.


Assim e em jeito de conclusão, defendo que o goleiro em específico, deverá, de forma analítica, adquirir conhecimentos específicos da sua técnica individual, para que possa avaliar, compreender, decidir da melhor forma. Quanto melhor a relação "eu-bola" mais capaz será o goleiro de tomar boas decisões no decorrer dos jogos.


Redigido por Pedro Otto Reuss


Treinador de Futebol - Nível II


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